quarta-feira, 24 de junho de 2015

CEP reabre prazo para trancar disciplinas, mas se recusa a debater suspensão de calendário



DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Aline Pereira
Foto: Zulmair Rocha

“Garantir aos estudantes, após o término da greve, o direito à reabertura do período de trancamento de matrícula e cancelamento de disciplinas do semestre letivo 2005.1”. Esta foi a resolução aprovada por unanimidade, durante a ligeira reunião extraordinária do Conselho de Ensino e Pesquisa – CEP, presidida pelo vice-reitor da UFF, Antônio Claudio Lucas da Nóbrega, na tarde de hoje (24). Em menos de dez minutos, foi votada a proposta apresentada pelo Diretório Central dos Estudantes – DCE, com base na decisão do CEP de 1º de junho, que deliberou pela manutenção do calendário acadêmico.

Integrantes do Comando Local de Greve dos Docentes da UFF – CLG participaram da reunião, sendo representados por Kátia Maria (Química), Carlos Eduardo R de Souza (Física), Nazira Camely (Economia) e Juarez Duayer (Arquitetura). Esse último, que também é diretor da Aduff-SSind, antes que a reunião do CEP começasse, fez um apelo aos conselheiros para que avaliassem a possibilidade suspender o calendário acadêmico durante a greve da categoria, em curso desde o último dia 28 de maio. De acordo com Juarez, a medida protegeria os discentes, garantindo que pudessem exercer o direito de greve.

“O Comitê de Ética do CLG tem recebido várias reclamações de assédio promovido por diferentes colegas que estão dando aula. Nossas reivindicações são por melhores condições de trabalho e contra a política de ajuste fiscal, promovida por um governo que corta quase R$10 bilhões da educação enquanto diz sermos a ‘pátria educadora’. Há várias notas de pró-reitores e colegas diretores que expressam o clima de instabilidade em relação ao funcionamento da universidade”, disse o professor.                                                                                                                

O Conselho, no entanto, parecia já estar firme em relação ao tema que sequer foi problematizado nessa reunião. De acordo com o vice-reitor, a convocação do CEP extraordinário era, naturalmente, um indicador da sensibilidade dos conselheiros em relação ao assunto. “Entendemos a necessidade de que existam instrumentos que possam proteger esses estudantes de problemas. Quem desejar, poderá cancelar a matrícula e não sofrerá sanção por participar da greve. A Superintendência de Tecnologia da Informação informa que será operacionalmente possível realizar o cancelamento das disciplinas”, disse o representante da administração central.

Subserviência dos conselhos superiores

A decisão aprovada no CEP implica, na prática, que o aluno grevista será penalizado e perderá o semestre. “Os alunos que estão fazendo greve não terão alternativa a não ser trancar a matrícula”, avalia Juarez. Para o docente, a reunião extraordinária do CEP nada mais foi do que “um rito sumário”.

Ele também criticou a ausência de quórum na reunião do Conselho Universitário - CUV que aconteceria na manhã dessa terça-feira, no auditório da Geociências. Os três segmentos do movimento grevista realizariam um ato no local para exigir um posicionamento da administração em relação às condições de trabalho na universidade, apresentando outros pontos da pauta de reivindicações da comunidade.

“A impressão é a de que não tem greve na UFF. Acontece esse esvaziamento do CUV no momento em que você tem mais de 30 universidades federais em greve, no dia posterior ao Ministério da Educação ter recebido o Andes-Sindicato Nacional para conversar. Além disso, temos outros problemas graves a tratar, como a crise financeira na universidade, já admitida publicamente pela reitoria; o caso dos trabalhadores terceirizados – 25% deles serão demitidos; e a precariedade das nossas condições na UFF. Estamos em greve para defender a universidade pública”, diz Juarez.

Divergência de propostas

Camila Leite, estudante do 8º período de Ciências Sociais, afirma que a proposta aprovada diverge de deliberação da assembleia discente realizada no dia anterior, quando se defendia a importância de reivindicar a suspensão do calendário acadêmico. Acompanhada de outros estudantes, ela revelou terem sido impedidos de entrar no prédio em que acontecia a reunião do CEP.

“O DCE ontem (23) apresentou uma proposta dizendo que os estudantes poderiam trancar a matrícula depois da greve. Tivemos acordo porque não estava claro que não haveria a defesa de cancelamento do calendário acadêmico”, argumentou. 

7 comentários:

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  3. Eu quero entender a lógica em relação frase de que suspender o calendário seria uma " medida protegeria os discentes, garantindo que pudessem exercer o direito de greve.".
    Até onde eu sei suspender o calendário, quer dizer que as aulas estão oficialmente interrompidas, certo? Assim mesmo os profs. que não fazem greve teriam que parar suas aulas. Assim os alunos que não fazem greve é que teriam seu direito de não fazer greve violado e não o contrário.
    Me parece muito razoável, permitir que os alunos grevistas tranquem o semestre. Isso já garante o suposto (visto que não existe legalmente) direito de greve dele!

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  4. Outra frase interessante "“A impressão é a de que não tem greve na UFF". Essa é mesmo a minha impressão. Agora eu queria ter alguma coisa mais concreta que impressões. Quantos profs. realmente são a favor da greve, quantos aderiram??? Enquanto não houver uma votação mais democrática da greve (votação por delegados nas unidades, ou com urnas nas unidades, etc) nunca saberemos.

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    1. Thiago, visite então as unidades do interior que você verá que estão quase que integralmente paradas. E não é de se estranhar, pois não tem qualquer condição de integralizarem o semestre. Cancelar o calendário significa que os alunos terão direito a reposição, ao passo que você, que teve professores anti democráticos que descumpriram deliberação da maioria da assembleia discente, terá suas notas e disciplinas reconhecidas ao término do período letivo.

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  5. Débora, na verdade sou professor da UFF e não aluno. E pior, sou o que você chamou de anti democrático.
    Por falta de conhecimento, não me parece necessário cancelar o calendário para garantir o direito a reposição. O que ocorreu em greves onde o calendário não foi cancelado? Além disso tenho dúvidas se os alunos grevistas têm direito a reposição, visto que apesar de obviamente reconhecer o direito deles de protestar, não sei se deixar de assistir aulas é a melhor maneira de fazer isso.

    Mas na verdade queria comentar o fato de os professores não grevistas serem anti-democráticos. No meu entender democracia é onde todos votam e a maioria decide. Mas a decisão da maioria não pode ferir direitos da minoria. Ou seja democracia não é a maioria impondo tudo sobre a minoria (que acho que seria tão ditatorial, quanto a minoria impondo tudo sobre a maioria). E no caso da greve a sociedade debateu este assunto quando discutiu a lei a greve (de 1989) e decidiu que é um direito de quem não concorda com a greve não fazer greve. Assim não considero ser anti-democrático não fazer greve, estou somente exercendo um direito me dado por um regime democrático. Obviamente pode-se argumentar que está lei é imbecil (como várias), mas não me parece o caso. E até onde sei ela é similar a de vários outras democrácias bem estabelecidas.

    E se a maioria realmente esta em greve, porque se incomodar tanto com uns poucos que "furam" a greve?

    Isso leva a outro ponto. Somente com as assembleias, que considero legitimas, é difícil saber quão grande é a adesão a greve. Se eu soubesse que a grande maioria dos profs. está em greve iria considerar também parar, mesmo não considerando que a greve seja oportuna e muito menos com a forma como é feita. Mas desse jeito fica difícil me convencer

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  6. Gente, o mais engraçado é vocês falarem de "alunos grevistas". E por acaso o aluno tem opção se os professores param de dar aula?

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