Nota
do Comando Local de Greve dos Docentes da UFF sobre o ato nos jardins da reitoria
em 3 de setembro de 2015
(Os jardins da reitoria fotografado durante o ato, no alto, e após o término:
protesto pacífico em defesa da universidade pública e sem danos ao local)
protesto pacífico em defesa da universidade pública e sem danos ao local)
Na tarde de ontem, quinta-feira, 3
de setembro de 2015, os docentes da UFF em greve realizaram um ato nos jardins
da reitoria da universidade, em Icaraí, Niterói. Tratava-se de
atividade nacionalmente articulada das Instituições Federais de
Ensino em greve, que se realizou no mesmo horário de uma audiência do Andes-SN,
entidade representativa da categoria docente, com os representantes do Ministério da Educação. O objetivo do
ato era chamar a atenção para o descompromisso do governo federal, e do ministro
da Educação, Renato Janine,
em particular, em negociar com uma greve que já se estende por
quase 100 dias e cuja pauta central é a defesa da universidade pública diante dos
cortes no orçamento da educação. Tratava-se também de um esforço para chamar a
atenção da comunidade
para a réplica do descaso
ministerial no interior das universidades, pelos reitores. Na UFF, em
particular, o reitor Sidney Mello não se dignou a receber servidores docentes, técnico-administrativos
e estudantes, todos em greve, designando subordinados para tratar com os
movimentos, sem respostas concretas a suas demandas e negando-se a assumir
perante a comunidade o tamanho da crise financeira que a instituição está vivendo.
O ato foi muito expressivo,
especialmente porque, além de servidores técnico-administrativos
e estudantes, os docentes receberam também o apoio de
trabalhadores desempregados dos estaleiros de Niterói e do Comperj – do movimento “SOS Emprego” – e de trabalhadores
sem-teto, do Acampamento 6 de abril, liderados pelo MTST. Esses apoios muito
nos orgulham, porque demonstram que a defesa da educação pública, gratuita e
de qualidade, em todos os níveis, une os trabalhadores da universidade aos demais
setores da classe. Demonstram ainda que nossa greve está longe de ser um
movimento “corporativista”, ao defender um
direito de todos, valorizado em cada fala das lideranças de desempregados
e sem-teto que ontem se manifestaram nos jardins da reitoria. A luta pelo
emprego, pela moradia, pela educação, em suma, pelos direitos fundamentais dos cidadãos e cidadãs brasileiros (as),
atacados pelas políticas de “ajuste” do governo, é uma luta só. Também nos orgulhamos de receber esses movimentos na UFF, porque
a universidade é deles (que com seus
impostos a sustentam), e por isso teria que ser mais aberta a sua participação como estudantes e
deveria estar voltada para suas necessidades, pois constituem a maioria da
população brasileira.
Durante o ato, interrompemos o trânsito em frente à reitoria da UFF por
alguns minutos, como forma de chamar a atenção da população para a luta em
curso. Faixas, velas acesas e projeções nas paredes dos prédios próximos tiveram o
mesmo objetivo. A lamentar profundamente que, durante a interrupção do trânsito, um(a)
motorista criminoso(a) avançou com sua Mercedez sobre os manifestantes, ferindo três pessoas – dois trabalhadores
do Acampamento 6 de Abril e um estudante da UFF. Todos foram socorridos com o
apoio da organização do ato e passam
bem, tendo sido liberados do atendimento de emergência ainda na noite
de ontem. O ato criminoso de atropelamento intencional será investigado, pois o
carro foi devidamente identificado. Os policiais no local se indignaram com o
fato e o próprio comandante do
Batalhão da Polícia Militar de
Niterói, em declaração ao jornal O
Fluminense, solicitou às vítimas que prestassem queixa criminal para garantir a apuração do ocorrido.
Durante a atividade, os jardins da
reitoria receberam barracas de lona, típicas das ocupações urbanas de
terrenos que não cumprem sua função social, feitas
pelos trabalhadores sem-teto. No encerramento do ato, esses trabalhadores,
docentes, estudantes e demais presentes confraternizaram-se dançando ao som de uma
banda de forró nos jardins. Finda
a atividade, toda a estrutura do ato foi desarmada e os jardins da reitoria
liberados limpos e intactos, como os encontramos.
Não nos surpreendeu
que, na manhã do dia seguinte (sexta-feira,
4/09), o reitor da UFF se pronunciasse via Facebook classificando o ato de “baderna” e o movimento de “irresponsável”. Não nos surpreendeu
porque Sidney Mello já provou em outras ocasiões quem é o verdadeiro
irresponsável nessa situação crítica em que vive a
universidade. Irresponsável porque omisso, porque só pode ser visto no Facebook
em seus passeios pelo mundo, enquanto a crise atinge a universidade que deveria
dirigir, a ponto de o fornecimento de energia ser cortado por falta de
pagamento. Irresponsável porque diante dessa situação, ao invés de somar forças na defesa da
UFF, como fazem os movimentos grevistas, prefere atacar as greves e minimizar
os problemas que deveria administrar. Irresponsável porque não comparece às reuniões do Conselho
Universitário, órgão máximo da instituição, omitindo-se de
administrar com transparência e democracia um momento de grave crise na instituição.
Também não nos surpreende
que classifique como “baderna” um ato que uniu docentes e trabalhadores desempregados e
sem-teto. Para a visão estreita e elitista da classe dominante brasileira e da
maioria dos que administram o serviço público em seu nome, a presença dos setores mais
pauperizados da classe trabalhadora no ambiente universitário e na vida pública em geral é “baderna”. Não percebe, porque não quer e porque não pode, em função de seus
compromissos de classe e sua visão pequena da política universitária, que tais movimentos nos dão, a todos na
universidade, lições do que é uma forma
verdadeiramente democrática de enfrentar as adversidades decorrentes das políticas destrutivas
que nos são impostas.
As mesmas redes sociais foram espaço para um assessor
da reitoria – Gabriel Vitorino
Sobreira –, utilizando-se de
informações falsas, tentar
difamar o movimento, culpando-o pelos atropelamentos na atividade de ontem.
Como sempre fazem os piores defensores da “ordem” que oprime os
trabalhadores, tenta culpar as vítimas pela ação do criminoso. E o faz na contramão da própria Polícia Militar,
demonstrando a que ponto chegamos na administração central da UFF.
Nós, que temos lutado
em defesa da Universidade Pública há quase quatro décadas, sabemos que pessoas como o reitor Sidney Mello e
seus assessores só puderam cursar uma
universidade pública, gratuita e de
qualidade porque nossa luta garantiu esse direito a eles. Essa luta, porém, continuará, até que cada
trabalhador e cada trabalhadora, desempregados, sem-tetos e todos mais, puderem
estudar na mesma universidade e ver seus filhos e filhas nelas também se formando.
Niterói, 4 de setembro de
2015
Comando
Local de Greve dos docentes da UFF
*Crédito das fotos: Luiz Fernando Nabuco)
Sou favorável à Greve dos Docentes e demais profissionais da Educação. Sou docente da rede pública e aluno da UFF-Campos. As manifestações dos colegas têm demonstrado sua força e assertividade nas reivindicações, a mudança de paradigma é mais do que justa! Fico indignado com a postura da reitoria da UFF ter essa visão, fragmentada da real situação que vivem as Universidades Públicas.. Infelizmente, ainda temos de conviver com o senso comum que ainda está estigmatizado em seres "magníficos" como este que anda na contramão dos direitos dos profissionais em greve. Continuem! A luta é de vcs, da sociedade, em benefícios de todos, e além disso, cumpre uma função social! Bravo!
ResponderExcluirBela resposta. Estamos juntos
ResponderExcluirBela resposta. Estamos juntos
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