sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Nota sobre o ato nos jardins da reitoria da UFF


Nota do Comando Local de Greve dos Docentes da UFF sobre o ato nos jardins da reitoria em 3 de setembro de 2015



(Os jardins da reitoria fotografado durante o ato, no alto, e após o término:
protesto pacífico em defesa da universidade pública e sem danos ao local)
 

Na tarde de ontem, quinta-feira, 3 de setembro de 2015, os docentes da UFF em greve realizaram um ato nos jardins da reitoria da universidade, em Icaraí, Niterói. Tratava-se de atividade nacionalmente articulada das Instituições Federais de Ensino em greve, que se realizou no mesmo horário de uma audiência do Andes-SN, entidade representativa da categoria docente, com os representantes do Ministério da Educação. O objetivo do ato era chamar a atenção para o descompromisso do governo federal, e do ministro da Educação, Renato Janine, em particular, em negociar com uma greve que já se estende por quase 100 dias e cuja pauta central é a defesa da universidade pública diante dos cortes no orçamento da educação. Tratava-se também de um esforço para chamar a atenção da comunidade para a réplica do descaso ministerial no interior das universidades, pelos reitores. Na UFF, em particular, o reitor Sidney Mello não se dignou a receber servidores docentes, técnico-administrativos e estudantes, todos em greve, designando subordinados para tratar com os movimentos, sem respostas concretas a suas demandas e negando-se a assumir perante a comunidade o tamanho da crise financeira que a instituição está vivendo.

O ato foi muito expressivo, especialmente porque, além de servidores técnico-administrativos e estudantes, os docentes receberam também o apoio de trabalhadores desempregados dos estaleiros de Niterói e do Comperj do movimento SOS Emprego e de trabalhadores sem-teto, do Acampamento 6 de abril, liderados pelo MTST. Esses apoios muito nos orgulham, porque demonstram que a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, em todos os níveis, une os trabalhadores da universidade aos demais setores da classe. Demonstram ainda que nossa greve está longe de ser um movimento corporativista, ao defender um direito de todos, valorizado em cada fala das lideranças de desempregados e sem-teto que ontem se manifestaram nos jardins da reitoria. A luta pelo emprego, pela moradia, pela educação, em suma, pelos direitos fundamentais dos cidadãos e cidadãs brasileiros (as), atacados pelas políticas de ajuste do governo, é uma luta só. Também nos orgulhamos de receber esses movimentos na UFF, porque a universidade é deles (que com seus impostos a sustentam), e por isso teria que ser mais aberta a sua participação como estudantes e deveria estar voltada para suas necessidades, pois constituem a maioria da população brasileira.

Durante o ato, interrompemos o trânsito em frente à reitoria da UFF por alguns minutos, como forma de chamar a atenção da população para a luta em curso. Faixas, velas acesas e projeções nas paredes dos prédios próximos tiveram o mesmo objetivo. A lamentar profundamente que, durante a interrupção do trânsito, um(a) motorista criminoso(a) avançou com sua Mercedez sobre os manifestantes, ferindo três pessoas dois trabalhadores do Acampamento 6 de Abril e um estudante da UFF. Todos foram socorridos com o apoio da organização do ato e passam bem, tendo sido liberados do atendimento de emergência ainda na noite de ontem. O ato criminoso de atropelamento intencional será investigado, pois o carro foi devidamente identificado. Os policiais no local se indignaram com o fato e o próprio comandante do Batalhão da Polícia Militar de Niterói, em declaração ao jornal O Fluminense, solicitou às vítimas que prestassem queixa criminal para garantir a apuração do ocorrido.

Durante a atividade, os jardins da reitoria receberam barracas de lona, típicas das ocupações urbanas de terrenos que não cumprem sua função social, feitas pelos trabalhadores sem-teto. No encerramento do ato, esses trabalhadores, docentes, estudantes e demais presentes confraternizaram-se dançando ao som de uma banda de forró nos jardins. Finda a atividade, toda a estrutura do ato foi desarmada e os jardins da reitoria liberados limpos e intactos, como os encontramos.

Não nos surpreendeu que, na manhã do dia seguinte (sexta-feira, 4/09), o reitor da UFF se pronunciasse via Facebook classificando o ato de baderna e o movimento de irresponsável. Não nos surpreendeu porque Sidney Mello já provou em outras ocasiões quem é o verdadeiro irresponsável nessa situação crítica em que vive a universidade. Irresponsável porque omisso, porque só pode ser visto no Facebook em seus passeios pelo mundo, enquanto a crise atinge a universidade que deveria dirigir, a ponto de o fornecimento de energia ser cortado por falta de pagamento. Irresponsável porque diante dessa situação, ao invés de somar forças na defesa da UFF, como fazem os movimentos grevistas, prefere atacar as greves e minimizar os problemas que deveria administrar. Irresponsável porque não comparece às reuniões do Conselho Universitário, órgão máximo da instituição, omitindo-se de administrar com transparência e democracia um momento de grave crise na instituição.

Também não nos surpreende que classifique como baderna um ato que uniu docentes e trabalhadores desempregados e sem-teto. Para a visão estreita e elitista da classe dominante brasileira e da maioria dos que administram o serviço público em seu nome, a presença dos setores mais pauperizados da classe trabalhadora no ambiente universitário e na vida pública em geral é baderna. Não percebe, porque não quer e porque não pode, em função de seus compromissos de classe e sua visão pequena da política universitária, que tais movimentos nos dão, a todos na universidade, lições do que é uma forma verdadeiramente democrática de enfrentar as adversidades decorrentes das políticas destrutivas que nos são impostas.

As mesmas redes sociais foram espaço para um assessor da reitoria Gabriel Vitorino Sobreira , utilizando-se de informações falsas, tentar difamar o movimento, culpando-o pelos atropelamentos na atividade de ontem. Como sempre fazem os piores defensores da ordem que oprime os trabalhadores, tenta culpar as vítimas pela ação do criminoso. E o faz na contramão da própria Polícia Militar, demonstrando a que ponto chegamos na administração central da UFF.
Nós, que temos lutado em defesa da Universidade Pública há quase quatro décadas, sabemos que pessoas como o reitor Sidney Mello e seus assessores só puderam cursar uma universidade pública, gratuita e de qualidade porque nossa luta garantiu esse direito a eles. Essa luta, porém, continuará, até que cada trabalhador e cada trabalhadora, desempregados, sem-tetos e todos mais, puderem estudar na mesma universidade e ver seus filhos e filhas nelas também se formando.

Niterói, 4 de setembro de 2015

Comando Local de Greve dos docentes da UFF

*Crédito das fotos: Luiz Fernando Nabuco)

3 comentários:

  1. Sou favorável à Greve dos Docentes e demais profissionais da Educação. Sou docente da rede pública e aluno da UFF-Campos. As manifestações dos colegas têm demonstrado sua força e assertividade nas reivindicações, a mudança de paradigma é mais do que justa! Fico indignado com a postura da reitoria da UFF ter essa visão, fragmentada da real situação que vivem as Universidades Públicas.. Infelizmente, ainda temos de conviver com o senso comum que ainda está estigmatizado em seres "magníficos" como este que anda na contramão dos direitos dos profissionais em greve. Continuem! A luta é de vcs, da sociedade, em benefícios de todos, e além disso, cumpre uma função social! Bravo!

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