Portões do Gragoatá foram abertos na tarde dessa terça-feira (2)
A reitoria da UFF impetrou ação de reintegração de posse para desfazer o piquete realizado por estudantes no campus do Gragoatá desde o dia 28, quando foi deflagrada a greve dos três segmentos na universidade. A Polícia Federal foi acionada pela administração central da instituição e, na tarde dessa terça-feira (2), munida de ordem judicial do juiz William Douglas R. dos Santos, da Vara Municipal de Niterói, abriu os portões do campus. Embora os professores grevistas não tenham aderido ao piquete, eles estiveram no local para tentar assegurar que não houvesse violência contra discentes durante a atuação dos policiais. Após a abertura dos portões, estudantes, docentes e técnico-administrativos realizaram um ato na Praça do Gragoatá.
O Comando Local de Greve dos docentes (CLG) questionou a ausência de representantes da reitoria para acompanhar a condução do processo. Renata Vereza, presidente da Aduff-SSind, entrou em contato, por telefone, com o chefe de gabinete da reitoria, José Rodrigues, afirmando que a instituição deveria se responsabilizar pela ação da Polícia Federal na universidade. “Não viemos garantir o piquete, mas a integridade física dos alunos”, disse a docente. José Rodrigues afirmou que um representante da administração central iria até ao Gragoatá, entretanto, ninguém compareceu. “É fundamental que quem pediu a reintegração de posse se responsabilize por esse processo”, enfatizou Renata. O Comando de Greve criticou a omissão da reitoria diante da ameaça de um desfecho violento para o caso – o que a ação dos professores evitou que ocorresse.
Estudantes criticam reitoria
De acordo com os estudantes que participavam dos piquetes, fechar o acesso ao campus foi um ato de solidariedade aos trabalhadores terceirizados, por não poderem aderir ao movimento paredista por conta da pressão exercida pelas empresas contratantes. “Se eles não entram, não trabalham”, explica uma aluna. “Além disso, há uma demanda que é nossa, de garantir que professores que não aderiram à greve não apliquem avaliações. É uma forma de assegurar que os alunos que entraram em greve tenham direitos respeitados”, complementou, salientando que as atividades de mobilização puderam acontecer no campus. “Hoje, teve plenária unificada; ontem, assembleia docente. Além disso, o SPA está funcionando”, afirmou.
Para Gustavo Felix, do curso de História, a reitoria encontrou uma oportunidade para criminalizar o piquete e não realizar um debate franco com os segmentos paredistas. “Postura autoritária e antidemocrática, porque priva as três categorias e mais os terceirizados do direito à greve”, disse. “A reitoria é parte ativa de todo processo de precarização e de terceirização na UFF. Para termos uma greve efetiva, é fundamental ter greve com paralisação das atividades na universidade”, afirmou outro discente do curso de Antropologia.
Em nota publicada no site da UFF, a reitoria afirma que “a interdição de campus além de significar uma clara subtração do direito constitucional de ir e vir, um constrangimento de caráter autoritário à mobilidade de estudantes, professores e pesquisadores e uma apropriação particularizada do espaço público, coloca em risco em alguns casos anos de dedicação em pesquisas de ponta”.
Em assembleia docente realizada na segunda-feira (1º), houve debate sobre a realização de piquete no acesso à universidade, com opiniões divergentes. Os presentes aprovaram discutir o assunto na plenária dos três segmentos, que foi realizada na manhã dessa terça-feira (2), problematizando a necessidade de realizar atividades de greve no interior do campus. Enfatizaram o respeito à autonomia dos estudantes, à importância histórica do piquete como forma de resistência e se posicionaram contra a criminalização dos movimentos sociais.
Polícia Federal na entrada do campus Gragoatá, na terça-feira (2): reitoria não acompanhou ação policial
DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Aline Pereira (texto) e Luiz Fernando Nabuco (fotos)
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