sexta-feira, 26 de junho de 2015

Cine-debate na greve: "Dois dias, Uma noite" faz pensar relações coletivas e de trabalho

Filme belga será exibido na terça-feira (30) no Gragoatá em atividade da greve; longa já foi objeto de debate num dia de paralisação na UFF Volta Redonda


DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Aline Pereira

Sandra é uma jovem senhora casada, mãe de um casal. Apta ao voltar ao trabalho, após quatro meses de licença médica para tratar uma depressão, ela descobre que seu emprego está por um fio. Quatorze dos dezesseis colegas preferiram receber um bônus individual de mil euros ao invés de tê-la de volta na equipe, mesmo sabendo que ela seria demitida. Domando a angústia que sente, ela tem pouco tempo para fazê-los mudar de ideia. Assim começa o filme belga, “Dois dias, uma noite”, que será exibido na próxima terça-feira, às 10h, no próximo dia 30 de junho (terça-feira), no Bloco D/ Campus do Gragoatá. Após o filme, haverá um debate com os professores Zuleide Silveira e Demian Melo, que vão abordar as relações de trabalho na contemporaneidade.

Sessão de “Dois dias, uma noite” fez sucesso em Volta Redonda

O mesmo filme também foi exibido em atividade de mobilização realizada em maio desse ano no campus de Volta Redonda/Aterrado. Na ocasião, os professores Augusto Cesar Freire, do curso de Psicologia, e Renata Vereza, presidente da Aduff-SSind, participaram do debate mediado pelo docente Gustavo Ferraz. Eles abordaram a crise econômica mundial, o individualismo da sociedade capitalista, o fenômeno da terceirização e as medidas de austeridade fiscal que retiram direitos dos trabalhadores. Ainda refletiram sobre as condições de trabalho na universidade, a necessidade de mobilização entre professores, estudantes, técnico-administrativos e terceirizados, e o processo de construção da greve unificada do funcionalismo público federal para pressionar o governo a negociar a pauta de reivindicações da categoria.

“O filme é lindo esteticamente, mas a história é pesada. Tem um contraste em si entre o que é da ordem da felicidade e o que é da ordem da tristeza. E é interessante ouvir os personagens dizerem, de forma recorrente, que não tinham culpa, porque quem decide, ao final, é o patrão, para se eximir de qualquer responsabilidade em relação ao futuro de Sandra”, disse Augusto Cesar Freire.

Para Renata Vereza, “Dois dias, uma noite” permite muitas discussões interessantes, sendo uma delas o individualismo como ideologia do capital. “Há um incentivo aos projetos individuais e não aos coletivos. Isso é muito conveniente para quem manda, porque juntos, nós temos muita força. Por outro lado, dizer que não podemos fazer nada aplaca a nossa consciência e diminui a nossa inserção na coletividade. Os direitos que ainda temos são resultado de um processo coletivo de lutas”, avalia.

A plateia interveio positivamente, tecendo considerações sobre o filme e relacionando as questões vividas pela personagem com os desafios da realidade, seja no campo da política econômica brasileira – refutando que direitos trabalhistas, previdenciários e sociais sejam retirados para o pagamento dos juros da dívida pública – seja em relação aos anseios gerados pela crise financeira, com o corte de bilionário no orçamento da Educação, que afetou as Instituições de Ensino Superior e, por conseguinte, à UFF.

“Com o ajuste fiscal, temos um corte no orçamento da Educação e da Saúde. Isso, em cascata, levou a menos 30% nas verbas da universidade pública – o que implica, na prática, na diminuição de uma série de programas, especialmente os de assistência estudantil. Também não houve a abertura de alguns programas de assistência ao docente, como auxílios para a participação em congressos e em bancas. Há campi com vários problemas graves em relação à infraestrutura, fruto de uma expansão mal planejada. Parte dessas questões está ligada à política de ajuste fiscal, mas outra está fortemente relacionada com o crescimento desordenado que a universidade vivenciou”, disse Renata.

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